Karima MANSOUR
Egito
Bailarina, Coreógrafa e Pedagoga

 

No início houve movimento… E desde o início dos tempos a dança tem sido um grande meio de expressão e celebração. Encontrada em murais de Faraós egípcios inspirou criadores até aos dias de hoje. A dança foi usada para evocar os diversos deuses e deusas da dança com tudo aquilo que representam em significado e conceitos como o equilíbrio, em estreita ligação com a justiça, musicalidade, som, a consciência individual e cósmica, entre outros.

Uma vez li que: “A dança nos tempos dos Faraós foi pensada para elevar o espírito dos bailarinos e da audiência de espetadores ou participantes. A música e a dança evocavam os mais altos impulsos da condição humana ao mesmo tempo que consolava as pessoas pelas decepções e perdas da vida.”

O movimento é uma linguagem falada por todos nós. Se abrirmos os nossos sentidos e escutarmos, o movimento é uma linguagem universal que pertence a todos. Ouvir é o que é requerido, ouvir sem interferência, ouvir sem julgamento, ouvir em silêncio e permitindo que o movimento passe através do corpo no momento, porque tudo dentro de nós e à volta de nós está em movimento, em constante movimento. Isto é quando o corpo não mente porque está a ouvir a sua verdade e a manifestá-la.

Ao ouvir as batidas do nosso coração podemos então dançar a dança da vida, a qual requer movimento, agilidade e adaptação, uma coreografia em constante mudança.

Nesta época em que a conexão e conectividade adquiriram novos significados e em que estamos no ponto mais baixo da nossa capacidade para nos conectarmos… A dança continua a ser a nossa ação mais procurada para restabelecer esta conexão perdida. A dança devolve-nos às nossas raízes, no sentido cultural, mas também no sentido sensorial, pessoal, individual mais imediato, até ao núcleo e ao coração, ao mesmo tempo que nos permite ser animais sociais. Por que é quando nos conectamos connosco próprios, quando escutamos o nosso ritmo interno, que conseguimos realmente estabelecer uma conexão com os outros e comunicar.

A dança é onde a cultura é partilhada e as fronteiras caem no espaço da inclusão e união, através da linguagem não falada da universalidade.

O corpo é um instrumento de expressão, um recipiente para a nossa voz, os nossos pensamentos, os nossos sentidos, a nossa história, o nosso ser e existência, os nossos desejos de expressão e conexão que se manifestam através do movimento.

A dança é um espaço que nos permite ligar com a verdade, e para isso é necessário um espaço tranquilo. A dança permite-nos conectar e sentir completos e é apenas com esse sentimento que encontramos paz. Com a paz vem o silêncio e é através do silêncio que podemos ouvir, escutar e falar, e é através da quietude que aprendemos a dançar as nossas verdades e é aqui que a dança se torna pertinente.

O movimento e a dança são onde nos podemos mover da vertical para a horizontal, de cima para baixo e vice-versa. O movimento e a dança são onde o caos pode ser criado e organizado, ou não. Onde somos capazes de criar as nossas próprias realidades e momentos fugazes, efémeros, um atrás do outro. Momentos que nos podem tocar e permanecer nas nossas memórias, que inspiram e modificam a nossa vida e a dos outros. Este é o poder da verdadeira expressão e, portanto, o poder da dança.

A dança é uma cura. A dança é onde a humanidade se pode encontrar.

Convido as pessoas a ir além das fronteiras, além das crises de identidade, além de nacionalismos e formatações. Que nos libertemos dessas limitações e encontremos o movimento e o momento nessa linguagem universal. Convido todos a dançarem ao ritmo do seu coração, da sua verdade interior porque é desses movimentos internos, que nos levam às revoluções internas, que acontecem as verdadeiras mudanças.

 

International Dance Day – International Theatre Institute – ITI